ontem ouvia o Alvim a debater-se para perceber como pode existir algo como Filosofia para Crianças, quando "elas têm um nível de atenção... perto do zero".
acenei que sim com a cabeça em concordância...
enquanto preparava o jantar calhei a apanhar um dos primeiros (senão o primeiro) episódio do Verão Azul na RTP Memória.
alguns minutos de Verão Azul relembraram-me que eu tinha um nível de atenção bem acima do zero, assim como o tinha o Tito, o "pequeno português" - apesar de não ser grande espada na escola (eu).
o mundo muda dramaticamente de dia para dia.
e vejo tanta melhoria como degradação.
como diz Bourdin, queremos fugir do nosso mundinho atribulado para a simplicidade de outrora. no caso específico de Bourdin, abandonar o excesso de haveres (muitos deles tecnológicos), em prol da simplicidade do quotidiano das vilas simples do sul de França - mas sem o trabalho árduo e desagradável suor que lhe está associado.
com as crianças não é muito diferente. os filhos passam da coisa mais desejada a trabalhos indesejados (e a evitar quando possível).
custa menos mudar uma fralda com um quilo de presente fumegante no início, que levar a criança ao parque meia hora dez anos mais tarde.
ás veses, refugiamo-nos no lugar comum da "idade parva" para rejeitar dar aquela atenção extra de precisam as crianças numa das alturas mais importantes em se forma o seu carácter - não aquilo que lhes ensinam como correcto e errado, mas aquilo que elas passam a considerar correcto e errado.
empurramo-los para as Playstations, Internets e núltiplos canais de televisão, a matar pessoas porque é divertido e porque podem, ver pornografia porque é fixe e está lá, e a ver séries televisivas e novelas onde as acções são fantasiosas e os diálogos roçam o ridículo.
e passar tardes inteiras a brincar na rua com os amigos do bairro? jogar à apanhada, futebol e ao garrafão? lembra-mse dos caldos na nuca, dos joelhos esfolados, da respiração a 100 à hora depois de passar a surumba sem ser apanhado?
eu cansava-me muito. e talvez por isso, apenas talvez, tinha momentos em que me concentrava afincadamente naquilo de que gostava.
não vivia na costa mediterrânica espanhola, nem tinha o Piranha como amigo, mas ainda assim vivia muitas aventuras.
e chegava a casa sujo, roto, ferido...
via um brilho nos olhos dos outros putos que hoje não consigo encontrar nas crianças adormecidas que vagueiam estas cidades.
o observação animal vem partilhar conclusões emergentes da observação do animal sobre os animais. será sobre ocorrências da vida quotidiana. o que tem de distinto do blog habitual é que, o que o animal aqui partilha não tem necessariamente que seguir uma linha de raciocínio, exalar nexo, tão pouco agradar a qualquer outro animal. são pensamentos que se me ocorrem. poderão não ser profundos, poderão ser incompreensíveis, mas serão genuínos. é como me apetecer.
Let the games begin
(qualquer animal é livre de abandonar este blog assim que se sinta medianamente confuso)
08 fevereiro 2011
o mundo que já não é, nem volta a ser
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Verão Azul
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6 comentários:
se juntares a isso tudo o facto cientifico de que o cérebro humano é uma esponja na infância para a informação que lhe dão, sendo até mais activo nos primeiros anos e a partir dai vai perdendo essa capacidade. se o Alvim acha que é ao contrario devia parar de procurar sabedoria no fundo da garrafa, e sei lá fazer uma licenciatura... em antropologia... ou coisa mais difícil ainda, ir a uma biblioteca e ler uns livros, aproveitando essa atenção que agora têm e diz que não tinha.
já agora...
"não vivia na costa italiana, nem tinha o Piranha como amigo," fiquei com a ideia de que o "verão azul" era em Espanha, mas pronto quando aquilo deu já tinha mais de 5 anos podia estar distraído. ;P
Já agora...
os pais de hoje são um espectáculo...
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/ultima-hora/eua-mata-filho-bebe-enquanto-joga-farmville
se fosse só largar o puto com a playstation era muito fixe.
tens razão Hugo.
foi mesmo em Espanha.
isto de estar a escrever para o blogue e a fingir que estamos a trabalhar dá azo a estas falhas.
talvez há 19 anos tivesse conseguido escrever tudo sem um erru.
obrigado.
quanto ao Alvim, ele não se referia propriamente à capacidade de absorção, mas mais à capacidade de concentração.
... já encontrei bastante sabedoria no fundo da(s) garrafa(s)...
Hugo... perturba-me profundamente que guardes na memória (ou nos favoritos) uma notícia do género, de há quase 4 meses...
A segurança dos dias de hoje não é a mesma de quando era miúda, por isso compreendo os receios dos pais de hoje em dia. Compreendo, mas não os desculpo. Porque hoje em dia, os pais que não têm tempo para os filhos, nem fazem por o arranjar, preferem comprá-los com outras coisas... é que assim, ao menos não os chateiam!
Angelic eu diria que a segurança baixou 50% e a paranóia subiu 150%.
não que eu seja contra a prevenção... não é por aí.
era mais um saudosismo daquilo que não volta, e uma revolta com aquilo que quero evitar.
=)
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